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Covid-19 e Endocrinologia

  • Foto do escritor: Luís Cardoso
    Luís Cardoso
  • 3 de abr. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 8 de abr. de 2020

A doença do coronavírus 2019 (Covid-19) é uma doença muito recente, da qual ainda sabemos muito pouco, provocada pelo SARS-CoV-2. Na China, a maioria dos doentes (~80%) apresentaram formas ligeiras a moderadas, enquanto 15% tiveram formas graves e cerca de 5% doença crítica.[1] À medida que a pandemia avança, torna-se cada vez mais importante identificar as pessoas que têm maior risco para formas mais graves da doença. Alguns destes fatores de risco já são conhecidos.[1-3]


Quais são os fatores de risco para evolução desfavorável da Covid-19?


Idade igual ou superior a 65 anos;

Independentemente da idade:

  • Pessoas com diabetes;

  • Pessoas com obesidade (índice de massa corporal maior ou igual a 40 kg/m2);

  • Pessoas com doença pulmonar crónica ou asma;

  • Pessoas com doença cardíaca;

  • Pessoas imunocomprometidas (por exemplo, pessoas sob tratamentos para o cancro, fumadores, transplantados, imunodeficiências, HIV mal controlado, uso prolongado de corticoides ou outros imunossupressores);

  • Pessoas com doença renal crónica em programa de hemodiálise;

  • Pessoas com doença hepática;

  • Residente em lar ou instituição semelhante.


Como pode prevenir a Covid-19?[4]


1. Distanciamento social: manter distância de pelo menos um metro;

2. Evitar cumprimentos que impliquem contacto físico;

3. Etiqueta respiratória:

  • Tapar o nariz e boca quando espirrar ou tossir;

  • Utilizar um lenço de papel ou o braço, nunca com as mãos;

  • Deitar o lenço de papel no lixo;

  • Lavar as mãos sempre que se assoar, espirrar ou tossir;

4. Reforçar as medidas de higiene:

  • Lavar frequentemente as mãos com água e sabão ou com uma solução de base alcoólica;

  • o Evitar contacto próximo com doentes com infeções respiratórias.

5. Evitar tocar nos olhos, nariz e boca;

6. Evitar partilhar comida e outros bens pessoais ou objetos;

7. Caso esteja doente deverá ficar em casa;

8. Caso sejam identificados alguns dos sintomas da doença Covid-19 (por exemplo, tosse, febre ou dificuldade respiratória), deve ligar para SNS24 - 808 24 24 24 e seguir as recomendações.


Quais os sinais e sintomas da Covid-19?


Os sintomas são relativamente inespecíficos e semelhantes a outras infeções virais das vias aéreas comuns e incluem tosse, febre, mialgias, cefaleias, cansaço fácil e dificuldade respiratória.[5] Na verdade, o espectro clínico é bastante heterogéneo, desde formas assintomáticas, formas leves com sintomas inespecíficos de doença respiratória aguda, a formas mais graves com pneumonia grave, insuficiência respiratória, sépsis e/ou choque. É fundamental identificar as pessoas assintomáticas, uma vez que estas são um importante foco de infeções secundárias.[6]


O que fazer perante a suspeita de Covid-19?


Em caso de febre com tosse ou dificuldade respiratória e/ou exposição provável ao Covid-19 (viagem de um país afetado nos 14 dias antes de adoecer ou contacto com pessoa com Covid-19) deverá ser contactada a linha SNS24 - 808 24 24 24. Caso seja aconselhada a ida ao hospital, é recomendável colocar uma máscara facial.[7, 8]


O que fazer em caso de confinamento no domicílio?


Indivíduos ou famílias com suspeita ou com infeção pelo SARS-CoV-2 (doença Covid-19) que se encontram em confinamento domiciliário devem seguir as medidas de prevenção e controle de infeção referidas em cima.[8] O objetivo centra-se na prevenção da transmissão a outras pessoas e na vigilância e monitorização da deterioração clínica, o que pode levar à hospitalização. As pessoas infetadas devem ser colocadas em quarto individual bem ventilado, enquanto os membros da família devem utilizar outras divisões, conforme as recomendações da Direção-Geral da Saúde.[9]

O Colégio de Endocrinologia e Nutrição da Ordem dos Médicos publicou recentemente recomendações sobre a atuação dos Serviços de Saúde e das pessoas com patologia endócrina relativamente à consulta, internamento e hospital de dia.[10]


Consulta:

As consultas devem ser realizadas preferencialmente sem a presença do doente, através de contacto telefónico ou por e-mail. Quando tal não for possível e a consulta presencial se mostre indispensável devem estar disponíveis máscaras cirúrgicas (na ausência de suspeita clínica de Covid-19) para os profissionais e doentes.[7, 10]

As consultas de pé diabético, em meio hospitalar, só deverão ocorrer presencialmente em casos de ferida infetada, não estabilizada ou ferida isquémica e com o equipamento de proteção individual apropriado (bata descartável, manga comprida e impermeável), máscara FFP1, óculos ou viseira, luvas e touca; a sala deverá ser sujeita a desinfeção entre os doentes). Os restantes casos deverão ser tratados nos cuidados domiciliários ou no centro de saúde.[10]


Internamento:

Sempre que a condição clínica o permitir, o internamento eletivo deve ser suspenso, já o internamento urgente mantém-se de acordo com o funcionamento de cada hospital.[10]


Hospital de Dia:

Sempre que possível as sessões de Hospital de Dia devem ser suspensas, salvo, por exemplo, a administração de terapêuticas injetáveis não adiáveis ou a diabetes descompensada. Neste caso, devem ser adotadas as medidas de segurança idênticas às da consulta.


Cuidados adicionais:

O Colégio de Endocrinologia e Nutrição da Ordem dos Médicos emitiu ainda alguns aconselhamentos, que incluem:[10]

  • Assegurar que tem a medicação habitual de forma a evitar deslocações desnecessárias;

  • Evitar ficar muito tempo imóvel e realizar pequenas sessões de exercício físico ligeiro, pelo menos 3 vezes por semana;

  • Hidratação regular;

  • Evitar refeições pré-cozinhadas ou alimentos processados, bebidas alcoólicas e/ou açucaradas.


Assim, para além dos cuidados gerais, semelhantes a toda a população, as pessoas com doenças endócrinas devem atender a certos cuidados específicos, uma vez que, em particular, a diabetes (não controlada) e a obesidade, expõe os doentes a um risco acrescido para evolução desfavorável da Covid-19 (ver também Covid-19 e Diabetes, Covid-19 e Obesidade e Covid-19 e doença de Addison).




1. Wu, Z. and J.M. McGoogan, Characteristics of and Important Lessons From the Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Outbreak in China: Summary of a Report of 72314 Cases From the Chinese Center for Disease Control and Prevention. JAMA, 2020.

2. Zhou, F., et al., Clinical course and risk factors for mortality of adult inpatients with COVID-19 in Wuhan, China: a retrospective cohort study. Lancet, 2020. 395(10229): p. 1054-1062.

3. Centers for Disease Control and Prevention. Coronavirus (COVID-19). 02/04/2020; Available from: https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/need-extra-precautions/people-at-higher-risk.html.

4. Direção-Geral da Saúde, Recomendações, Sabe como se pode proteger? O que deve saber sobre o vírus e medidas de proteção. 2020.

5. Direção-Geral da Saúde. Ponto de Situação Atual em Portugal. 02/04/2020; Available from: https://covid19.min-saude.pt/ponto-de-situacao-atual-em-portugal/.

6. Li, R., et al., Substantial undocumented infection facilitates the rapid dissemination of novel coronavirus (SARS-CoV2). Science, 2020.

7. Direção-Geral da Saúde, Prevenção e Controlo de Infeção por SARS-CoV-2 (COVID-19): Equipamentos de Proteção Individual (EPI). 2020. Norma nº 007/2020 de 29/03/2020.

8. European Society of Endocrinology, COVID-19 and endocrine disease: Clinical information and comment from ESE. A statement from the European Society of Endocrinology COVID-19 and endocrine diseases. 2020.

9. Direção-Geral da Saúde, Infeção por SARS-CoV-2 (COVID-19) - Distanciamento Social e Isolamento. 2020. Orientação nº 010/2020 de 16/03/2020.

10. Colégio de Endocrinologia e Nutrição, Informação no contexto da pandemia Covid-19. 2020, Ordem dos Médicos.

 
 
 

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