COVID19 e Diabetes
- Luís Cardoso
- 2 de abr. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 6 de abr. de 2020
As pessoas com diabetes bem controlada têm um risco de infeção e complicações por COVID-19 semelhante ao da restante população.[1]
No entanto, as pessoas com mau controlo da diabetes têm maior risco de desenvolver formas mais graves de Covid-19, com maior necessidade de internamento em unidades de cuidados intensivos e mais elevada mortalidade.[2, 3] A prevalência da diabetes entre as pessoas com Covid-19 ainda não está totalmente definida, variando conforme os locais em estudo e com a gravidade da doença, mas parece rondar os 20%, sendo mais elevada nos doentes que morrem por Covid-19.[4, 5]

Porque é que as pessoas com diabetes têm risco aumentado de complicações por Covid-19?
A hiperglicemia crónica afeta negativamente o sistema imunitário e aumenta o risco de morbi-mortalidade secundária a infeções. Particularmente a resposta imunitária às infeções virais e infeções bacterianas secundárias parece ser comprometida pelo mau controlo glicémico.[6]
A obesidade, muitas vezes, associada à diabetes, apneia do sono e asma, é também um fator de risco para complicações infeciosas e pode contribuir sinergicamente com estas para o desenvolvimento de formas mais graves de Covid-19.
As complicações da diabetes, nomeadamente a doença renal crónica e a doença coronária, podem ser agravadas no contexto da Covid-19. Adicionalmente, tal como a gripe sazonal, a Covid-19 parece potenciar lesão miocárdica aguda com insuficiência cardíaca e pior prognóstico.[2, 7]
Tratamento da diabetes durante a infeção por Covid-19
O mau controlo glicémico associa-se a pior prognóstico nas doenças infeciosas, no entanto, o inverso também é verdade e o risco de complicações infeciosas é reduzido com o bom controlo glicémico.[6]
Durante o período de doença, o tratamento da hiperglicemia pode ser particularmente desafiante devido à febre, ingestão alimentar irregular e utilização corticoides. Assim, durante esta fase, é recomendável intensificar a vigilância da glicemia capilar e/ou intersticial, bem como ajustar a terapêutica com mais frequência.
No caso da diabetes tipo 2, pode haver necessidade de suspender os anti-diabéticos orais e realizar tratamento com insulina durante o período de doença. Isto é particularmente relevante com a metformina, inibidores da STGLT2 e inibidores da DPP-4 nas infeções moderadas a graves, com insuficiência renal ou hepática, acrescendo nas sulfonilureias o risco de hipoglicemia, aquando da diminuição da ingestão alimentar. As pessoas com diabetes já tratadas com insulina basal, uma vez por dia, poderão necessitar de insulina rápida para corrigir a hiperglicemia.
Nas pessoas com diabetes tipo 1 tratadas com esquemas subcutâneos de insulina basal-bólus ou bomba de insulina poderão necessitar de aumentar as doses de insulina. Por outro lado, a vigilância da glicemia, dos corpos cetónicos e o recurso a bólus de correção são fundamentais para prevenir flutuações glicémicas – hipoglicemias e hiperglicemias – e cetoacidose. Resumindo, é fundamental:[8]
Verificar com antecedência se dispõe de toda a terapêutica que necessita: insulina ou comprimidos, tiras-teste para glicemia/cetonemia, sensores de monitorização da glicose, agulhas ou consumíveis para a bomba perfusora subcutânea de insulina;
Aumentar a frequência das medições da glicemia capilar e se necessário administrar insulina de correção, sobretudo durante o período de doença;
Avaliar corpos cetónicos na presença de dor abdominal, náuseas ou vómitos e glicemia elevada, que não diminui apesar de administração de insulina. Se cetonémia superior a 1,5mmol/L deve contactar o serviço onde é habitualmente seguido ou a Linha SNS24 - 808 24 24 24.
1. Direção-Geral da Saúde, Prevenção e Controlo de Infeção por SARS-CoV-2 (COVID-19): Equipamentos de Proteção Individual (EPI). 2020. Norma nº 007/2020 de 29/03/2020.
2. Li, B., et al., Prevalence and impact of cardiovascular metabolic diseases on COVID-19 in China. Clin Res Cardiol, 2020.
3. Yang, X., et al., Clinical course and outcomes of critically ill patients with SARS-CoV-2 pneumonia in Wuhan, China: a single-centered, retrospective, observational study. Lancet Respir Med, 2020.
4. Zhou, F., et al., Clinical course and risk factors for mortality of adult inpatients with COVID-19 in Wuhan, China: a retrospective cohort study. Lancet, 2020. 395(10229): p. 1054-1062.
5. Chen, C., et al., [Analysis of myocardial injury in patients with COVID-19 and association between concomitant cardiovascular diseases and severity of COVID-19]. Zhonghua Xin Xue Guan Bing Za Zhi, 2020. 48(0): p. E008.
6. Critchley, J.A., et al., Glycemic Control and Risk of Infections Among People With Type 1 or Type 2 Diabetes in a Large Primary Care Cohort Study. Diabetes Care, 2018. 41(10): p. 2127-2135.
7. European Society of Endocrinology, COVID-19 and endocrine disease: Clinical information and comment from ESE. A statement from the European Society of Endocrinology COVID-19 and endocrine diseases. 2020.
8. Colégio de Endocrinologia e Nutrição, Informação no contexto da pandemia Covid-19. 2020, Ordem dos Médicos.
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